Incidência da Tuta absoluta
(Lepidóptera: Gelechiidae) na cultura de tomate na província Cuanza Sul (Original)
Incidence of Tuta absoluta (Lepidóptera: Gelechiidae)
in tomato crops in Cuanza Sul province (Original)
Joel Fausto Eculica.
Licenciado em Agronomía. Doutor em Proteção de Plantas. Professor Auxiliar.
Instituto Superior Politécnico do Cuanza Sul. Angola. eculica.joel@hotmail.com
Alain Ariel de la Rosa Andino. Engenheiro
em Mecanização Agropecuária. Doutor em Ciências Técnicas Agropecuárias.
Professor Catedrático. Instituto
Superior Politécnico do Cuanza Sul. Sumbe. Província Cuanza Sul. Angola. alainariel41@gmail.com
Laurindo Chambula Ladeira. Licenciado
em Agronomía. Mestre em Agroecología. Professor Assitente. Instituto Superior
Politécnico do Cuanza Sul. Angola.
Recibido:10-01-2024/Aceptado:02-03-2024
Resumo
Na última década o tomateiro tem sido severamente atacado
pela Tuta absoluta, tornando-se uma das pragas de maior
ocorrência e relevância na cultura, despertando atenção pela forma agressiva de
ataque e disseminação. O presente artigo teve como objectivo avaliar a
incidência da Tuta absoluta sobre 6
variedades de tomate no campo experimental do Instituto Superior Politécnico do
Cuanza Sul. O ensaio foi conduzido em condições de campo aberto na parcela
experimental, num período compreendido entre Maio de 2020 à Setembro de 2021 em
dois ciclos distintos. O delineamento experimental foi de blocos casualizados
num esquema de seis tratamentos (variedades) T1 (Marmande, Rodade); T2 (Cal J,
Rio Grande); T3 (Elgon, Peto 86); T4 (Cereja, Roma); T5 (Variedade Local,
IPA6); T6 (IPA6, Variedade Local) e três repetições. Avaliou-se parâmetros fitossanitários (sintomas, % de folhas atacadas, virulência, dano na planta e
severidade); parâmetro vegetativo (altura da planta) e produtivos (número de
cacho, número de fruto por cacho, diâmetro do fruto, peso do fruto e a
produtividade). A Tuta absoluta teve
uma incidência nos dois ciclos, no primeiro foi severa causando a morte das
plantas. No segundo ciclo teve um ataque similar em todas variedades sem, no
entanto, impedir a produção. O tratamento T3 obteve melhores resultados nos
parâmetros produtivos, excepto na variável diâmetro. Conclui-se que a tuta teve
uma incidência de ataque em todas as variedades, entretanto a variedade T3 se
apresentou como a mais produtiva.
Palavras-chave: fitossanidade; protecção de
plantas; traça do tomateiro; Lycopersicon esculentum Mill.
Abstract
In the
last decade, tomato plants have been severely attacked by Tuta absoluta, becoming one of the most
common and occurrence pests in the crop, attracting attention due to the form
of attack and dissemination. The present article aimed to evaluate the
incidence of Tuta absoluta on 6
tomato varieties in the experimental field of the Instituto
Superior Politécnico do Cuanza Sul.
The test was controlled under open field conditions in the experimental plot,
from May 2020 to September 2021 in two different cycles. The experimental
design was randomized blocks in a scheme of six treatments (varieties) T1 (Marmande, Rodade); T2 (Cal J, Rio
Grande); T3 (Elgon, Peto 86); T4 (Cereja,
Roma); T5 (Variedade Local, IPA6); T6 (IPA6, Variedade Local) and three repetitions. Was assessed the phytosanitary parameters (simptoms,
% of leaves attacked, virulence, damage to the plant and severity); vegetative
parameter (plant height) and productive parameters (number of bunches, number
of fruits per bunch, fruit diameter, fruit weight and productivity). Tuta absoluta had
an incidence in both cycles, in the first there were several causing the death
of the plants. In the second cycle there was a similar attack in all varieties
without, however, preventing production. The T3 treatment obtained better
results in the productive parameters, except in the diameter variable. It is
concluded that the Tuta absoluta had
an incidence of attack in all varieties, however the T3 variety was the most
productive.
Keywords: phytosanitary, plant protection, South
American tomato pinworm; Lycopersicon esculentum
Mill.
Introdução
O tomate (Lycopersicon
esculentum Mill.)
está entre as hortaliças de maior importância no mundo, por fazer parte da
dieta básica da maioria das populações. Está amplamente distribuído pelo mundo
e considerado a segunda hortaliça em volume de produção e consumo (Badiz et al., 2022). A temperatura e a humidade
do solo podem afectar diretamente na capacidade produtiva e na qualidade de frutos
de tomate, onde se faz necessário apresentar técnicas de cultivo para que estes
factores sejam favoráveis as plantas (Fernando & Bandeira, 2021).
"O cultivo de tomate a campo aberto possibilita
maior interferência na produtividade do produto, em algumas variáveis alguns
factores como as condições climáticas e a incidência de pragas podem ter
comprometer o desenvolvimento da cultura" (Ribeiro et al., 2023, p.15803).
Outros dos principais factores
que reduzem a produtividade no sector de tomaticultura são os ataques e danos
causados por pragas (Bacci et al., 2021). Segundo Monesi et al. (2022): "a ocorrência da traça-do-tomateiro [Tuta
absoluta (Meyrick)] pode causar danos de até 100% em seus cultivos"(p.1). Bacci et al. (2021), referiram que destaca-se
como uma praga causadora de danos diretos e indiretos ao longo de todo o ciclo
da cultura, devido a sua elevada adaptabilidade e dificuldades de controlo.
Esse inseto forma galerias em
folhas, caules, flores e frutos do tomateiro, durante todo seu desenvolvimento
fenológico. Nos últimos anos, esta praga tem provocado muitas perdas nos
cultivos de tomate devido a seleção de populações resistentes a diamidas, a
principal molécula inseticida utilizada no controlo da traça-do-tomateiro (Monesi et al., 2022, p.1).
Outro factor de impacto da
traça-do-tomateiro é sua dispersão global, intensificado pela comercialização
entre áreas e países produtores (Bacci et al., 2021). Segundo Barros et al. (2015 citado pelo Lopes et al.
2021, p.1): "Das diversas técnicas de controlo, o controlo
químico ainda é o mais utilizado, uma vez que apresenta rápida resposta na
redução populacional dos insetos". Entretanto, muitos produtores aplicam
indiscriminadamente o controlo químico, provocando efeitos negativos para o
ambiente e a saúde humana (Bravo et al., 2020).
"Uma das problemática destes métodos é o efeito
negativo sobre populações de insetos coexistentes, como populações de inimigos
naturais da traça-do-tomateiro: Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera:
Trichogrammatidae), Pseudapanteles sp. (Hymenoptera: Braconidae) e Protonectarina
sylveirae (Saussure) (Hymenoptera: Vespidae)" (Barros et
al., 2015 citado pelo Lopes et al.
2021, p.1).
Em Angola já se produz tomate
de boa qualidade, fruto do conhecimento científico e aplicação de tecnologias
que visam a incrementação do mesmo produto. Mas quase toda cultura em condições
ambientais favoráveis pode ser atacada de forma separada por doenças, pragas e
muitas vezes o ataque de pragas proporcionará o aparecimento de doenças e
vice-versa. As pragas têm devastado as culturas, de tal modo que interferem na
sua comercialização, isto acontece por falta de conhecimento. Muitos
agricultores se apercebem do ataque de uma praga já num estágio avançado, sem
ter como reverter a situação; pois estas são variáveis que causam muito
prejuízo, podendo atacar desde a fase inicial até a fase de armazenamento se
não forem tomadas medidas profilácticas atempadamente.
Há anos que a província do
Cuanza-sul tem sido assolada pela Tuta absoluta, várias causas para o
ataque desta praga foram levantadas tais como: fertilizantes, sementes, e o
cultivo de plantas da mesma família do tomateiro, a saber solanáceas e outras.
A penúltima causa desperta interesse pois na nossa província, uma das famílias
de hortícolas mais cultivadas são as solanáceas, doenças e pragas, neste caso a
Tuta absoluta têm esta capacidade de
alternar de hospedeiros ainda que a tomateiro já não esteja no nosso campo de
cultivo, podendo ainda permanecer como hospedeiros em plantas que não sejam de
interesse agrícola, daí necessário prestar mais atenção.
Tendo em conta o exposto, foi
realizado este artigo que teve como objetivo avaliar a incidência da Tuta absoluta sobre 6 variedades de
tomate no campo experimental do Instituto Superior Politécnico do Cuanza Sul.
O presente trabalho realizou-se no campo experimental do
Instituto Superior Politécnico do Cuanza-Sul, localizado
na cidade do Sumbe; cintura verde, bairro da Dinga. Folha cartográfica Nº 184
do IGCA de Angola, coordenadas UTM 0374340 e 8762240, limitado a Noroeste,
Sudoeste, e Nordeste por terrenos agrícolas de pequenos agricultores, que maior
parte produz para sua subsistência. Realizado num período de 1 ano e 4 meses compreendido de
Maio de 2020 à Setembro de 2021 com um intervalo superior a 7 meses entre o
primeiro ao segundo ensaio por causa das condições edafoclimáticas, realizado
em condições de campo aberto, apresenta um solo negro, de textura franco argiloso;
temperatura ambiental de 18 °C a 32 °C, e humidade relativa 85% são as
condições edafoclimáticas da área.
Figura 1. Temperatura
média do ar mensal referente aos meses de Janeiro à Dezembro de 2021 e 2022
respectivamente no município do Sumbe, período em que decorreu o ensaio
Fonte:
elaboração dos autores.
Para cada ciclo foram selecionadas 6 variedades,
correspondendo aos 6 tratamentos do ensaio, cujo critério baseou-se em: i)
variedades mais comummente usadas pelos agricultores familiares; ii)
disponibilidade das variedades no mercado; iii) facilidade de acesso pelos
agricultores (preço e proximidade das lojas vendedoras) e iv) variedades
comercialmente aceites pelos consumidores.
A preparação do solo foi de forma mecânica com recurso à
uma motocultivadora, com o intuito de dissipar a vegetação espontânea e outros
restos de culturas encontrados, tornar o solo mais assimilável aos nutrientes,
melhorar a circulação da água e o ar dentro dos macro e micro poros do solo. Sendo que 30 dias antes da instalação da cultura foi
feita a aplicação de fertilizante orgânico (esterco bovino), foi revolvido para
a sua distribuição equitativa na área de ensaio com ancinho e o mesmo serviu
para poder destorroar os amontoados de solo deixado aquando da lavoura.
A instalação do viveiro foi realizada no dia 18 Maio 2020
numa área útil de 13,5 m2 (com uma largura de 2,7 m e 5 m de
cumprimento), com o auxílio de uma enxada retirou-se a vegetação espontânea já
existente, mobilizou-se o solo com a intenção de tornar o mesmo mais espesso,
subsequentemente a desestruturação e remoção dos torrões com ancinhos, todas
operações foram executadas para que as sementes desenvolvessem sem qualquer
problema. A sementeira no viveiro foi feita no dia 1 de Junho de 2020,
regou-se, uma semana depois foi necessário fazer o desbaste.
As plantas foram transplantadas para o local definitivo
após 30 dias, com o auxílio de uma espátula de metal para tirá-las do viveiro,
abrir os covachos no local definitivo, a cada canteiro/tratamento foram
colocadas 12 plantas, sendo 4 plantas em cada uma das 3 linhas, este processo
foi feito nas horas em que as temperaturas estão baixas, sendo aconselhável
primeiras horas do dia ou mesmo as últimas horas da tarde, posteriormente foi
feita a rega com o auxílio de um regador, permitindo que as plantas possam se
fixar e acomodarem-se com o novo substrato e garantir o vigor pós-transplante.
Os ensaios foram realizados numa área de 104 m2 ,
cada parcela ocupando 2 m2 de área útil (2,0 m x 1,0 m), a
distância de um canteiro ao outro foi de 0,5 m, composto por 8 plantas, num
compasso de sementeira de 0,5 m x 0,5 m. O delineamento usado foi de blocos
casualizados, sendo seis (6) tratamentos e três (3) repetições, totalizando 18
canteiros.
As variedades
usadas durante os ensaios estão descritas a seguir: Primeiro Ciclo: T1-
Marmande; T2- Cal J; T3- Elgon; T4- Cereja; T5- Variedade Local; T6- IPA6.
Segundo Ciclo: T1- Rodade; T2- Rio Grande; T3- Peto 86; T4-Romã; T5- IPA6; T6-
Variedade Local.
O sistema de rega usado foi o superficial, feita por
sulcos com o auxílio de regadores e baldes, o intervalo de rega estabelecido
foi de dois dias, podendo ser reduzido ou acrescido, dependentemente do estado
do tempo, humidade aparente do solo, estado vegetativo das plantas após o
transplante ou ainda em função do seu desenvolvimento vegetativo.
Foi feita após o transplante das plantas para o local
definitivo, durante este processo muitas plantas não conseguiram se estabelecer
de forma vigorosa por diversos motivos ou mesmo de tão fracas morreram, daí a
necessidade de executar um novo transplante para substitui-las de modo a ter
uma cultura uniforme, feita com o auxílio de uma espátula.
No ensaio a sacha foi feita com o auxílio de uma enxada e
um ancinho, tendo obedecido o intervalo de 15 em 15 dias de acordo a
necessidade de eliminação das ervas infestantes existentes.
Esta operação
foi realizada após a adubação de cobertura, com o intuito de cobrir as raízes
fazendo com que assimilassem melhor o adubo.
Foi realizado tanto no viveiro como no local de ensaio,
eliminando as plantas raquíticas, malformadas, ou também plantas em excesso com
objectivo de manter uma densidade populacional óptima. Tanto no viveiro como no
local de ensaio foi feita de forma manual.
Operação foi
feita tendo em conta o peso dos frutos, para evitar prováveis pragas e doenças
devido a humidade do solo. Feita tanto ao tomatiero do tipo de crescimento
determinado como indeterminado.
Feita para poder
retirar todos ramos e folhas que estavam em excesso, realizou-se com ajuda de
uma tesoura.
O tomateiro é uma
das plantas mais exigentes em adubação, conforme cada etapa de desenvolvimento,
a cultivar, a temperatura, o solo, a luminosidade, a humidade relativa e o
maneio adotado, os teores médios de nutrientes no tecido vegetal podem variar ,
a absorção de N, P, K aumenta logo a partir do desenvolvimento dos frutos .
Antes da instalação
da cultura no local de ensaio foi feita uma adubação de fundo usando o adubo
orgânico curtido (esterco bovino), Soy-adubo e o guano (comercial e artesanal),
nomeadamente no intervalo entre a preparação, marcação, delimitação da área de
ensaio à transplantação. As doses usadas tiveram como base a quantidade (%) N
obtida na ficha técnica dos fertilizantes (tabela 1). Sendo que para a
aplicação do esterco bovino recomenda-se aplicar de 1 a 5 kg m-2 de
acordo com a fertilidade do solo, para o
Guano artesanal usou-se como base a dose do guano comercial. Após 45 dias foram
feitas adubações de cobertura para suprir as necessidades nutricionais das
plantas, seguindo a literatura foram colocadas quantidades equitativas em sacos
para a sua posterior distribuição na área de ensaio, cada linha com 13 g de NPK
totalizando 52 g de NPK por canteiro.
Tabela 1. Doses de aplicação e
quantidades de fertilizantes usadas no ensaio
Fertilizantes |
Dose aplicada (kg ha-1) |
Quantidade aplicada em 2 kg m-2 |
Esterco Bovino |
20 000 |
4 |
Soy- adubo |
870 |
0,174 |
Guano comercial |
4167 |
0,833 |
Guano artesanal |
4167 |
0,833 |
NPK |
833,3 |
0,02 |
Fonte: elaboração dos autores.
Para a avaliação no campo as amostras foram distintamente
identificadas e posteriormente colhidas. O ensaio teve dois ciclos distintos,
sendo que foram avaliadas 12 plantas correspondente a um tratamento,
nomeadamente 4 plantas por canteiro no sistema de zig-zag, evitando as plantas
da bordadura.
Os parâmetros fitossanitários avaliados foram adaptados
de acordo a metodologia de Prasanna et al. (2018) para os dois
ciclos foram: sintomas, percentagem de folhas atacadas, virulência, dano na
planta e a severidade.
Sintomas: este
parâmetro fitossanitário foi avaliado de forma manual.
Perentagem (%) de
folhas afectadas: a percentagem das
folhas foi feita de forma manual, onde contabilizou-se a percentagem total de
folhas, que representou 100% e a percentagem de folhas atacadas
por cada planta.
Virulência: parâmetro fitossanitário avaliado de
forma manual.
Dano na Planta e
Severidade: foi de forma manual, para estes dois parâmetros
fitossanitários foram determinados usando a mesma escala.
Descrição do
parâmetro usado: SINT: I= elípticas e fusiforme; II= finas e alongadas; III=
lineares; IV= aproxim. Circulares; V= pontuais. N. FL: nº de folhas atacadas
por planta; Virulência: a= baixa; b= moderada; c= alta; Dano na Planta e
Severidade: 1= infecção ligeira 10%; 2= infecção leve 10-25 %; 3=infecção
moderada 26-50%; 4= infecção forte 51-75%; 5= infecção muito forte
76-100%. O protocolo usado para os
parâmetros fitossanitário está descrito no anexo.
O parâmetro vegetativo foi a altura da planta.
Altura da planta:
para medição deste indicador usou-se uma fita métrica, medindo desde a base da
planta ao ápice, feito obedecendo intervalo de 7 dias, sendo a primeira
observação 7 dias após o transplante.
Os parâmetros
produtivos apenas foram avaliados no segundo ciclo, foram adptadas de acordo a
metodologia de Gomes et al.
(2018):
Número de cacho ou
Penca (CAP): foram contados no
momento da colheita, já quando maduros, sendo a mesmo feito de forma manual,
foram 6 colheitas.
Número de frutos
por cacho (FP): quantificou-se de
forma manual, no momento da colheita.
Diâmetro do fruto
(DF): foi avaliado sempre no final
de cada colheita com o auxílio de um paquímetro.
Peso por fruto
(PF): foi feita usando uma balança
com capacidade máxima de 5kg, no final de cada colheita.
Rendimento (R): o
rendimento foi achado através da produção média de plantas por metro quadrado,
e posteriormente para a produção por hectare.
A análise dos resultados foi efectuada no programa
estatístico IBM SPSS Statistics 20. Na análise estatística dos resultados
procedeu-se à análise de variância. As médias com diferenças significativas
foram separadas com o teste Tukey HSD (α = 0,05).
Análise e discussão dos resultados
Na
tabela 2 e 3, observa-se
o resumo das médias dos parâmetros fitossanitários avaliados ao decorrer do
experimento sendo elas: sintomas, percentagem (%) de folhas atacadas,
virulência, dano na planta, severidade. Os resultados obtidos nos mostram um
comportamento fitossanitário diferente nos dois ciclos. Com uma severidade dos
problemas fitossanitários maior no primeiro ciclo do ensaio do que no segundo.
Tabela 2. Resumo das médias dos parâmetros fitossanitários avaliados no
primeiro ciclo do ensaio
Variáveis** |
Tratamentos* |
|||||
T1 |
T2 |
T3 |
T4 |
T5 |
T6 |
|
Sintomas |
- |
II |
III |
I |
III |
I |
% De folhas atacadas |
- |
- |
100% |
- |
100% |
100% |
Virulência |
- |
- |
c |
- |
c |
c |
Dano na planta |
- |
3 |
3 |
3 |
4 |
3 |
Severidade |
- |
- |
4 |
3 |
4 |
4 |
Legenda: *T1 - Marmande; T2 - Cal J; T3 - Elgon; T4
- Cereja; T5 - Variedade Local Conda; T6 -IPA6. ** SINT: I = elípticas e
fusiforme; II = finas e alongadas; III = lineares; IV = aproxim. Circulares; V
= pontuais.; Virulência: a = baixa; b = moderada; c = alta; Dano na Planta e
Severidade: 1 = infecção ligeira 10%; 2 = infecção leve 10-25 %; 3 =infecção
moderada 26-50%; 4 = infecção forte 51-75%; 5 = infecção muito forte 76-100%.
Fonte: elaboração dos autores.
Os principais sintomas foram III- lineares nos
tratamentos T3 e T5, I- elíptico e fusiforme nos tratamentos T4 e T6. No
tratamento T1 não se obteve resultados, pois já não tinha plantas por conta da
severidade do ataque ter sido muito forte. A percentagem de folhas atacadas
atingiu os 100 %. A variável virulência foi alta. Quanto a variável dano na
planta e a severidade variaram de infecção moderada à forte. Antes do incício
da floração todas plantas morreram.
Tabela 3. Resumo das médias dos parâmetros
fitossanitários avaliados no segundo ciclo do ensaio
Variáveis** |
Tratamentos* |
|||||
T1 |
T2 |
T3 |
T4 |
T5 |
T6 |
|
Sintomas |
I |
I |
I |
I |
I |
I |
%
De folhas atacadas |
70% |
61% |
60% |
62% |
64% |
71% |
Virulência |
c |
c |
c |
c |
c |
c |
Dano
na planta |
3 |
4 |
4 |
3 |
4 |
4 |
Severidade |
3 |
4 |
4 |
3 |
4 |
4 |
Legenda: T1- Rodade; T2- Rio Grande; T3- Peto 86;
T4- Romã; T5- IPA6; T6- Variedade Local de Benguela.
Fonte: elaboração dos autores.
O sintoma foi constante, apresentando folhas elípticas e
fusiformes. Quanto à variável percentagem (%) de folhas atacadas variou de 60 a 71 %. A virulência também se manteve
constante em todos tratamentos. Quanto a variável dano na planta e severidade
variaram de infecção moderada à forte.
Na tabela 4, observa-se o resumo das médias do parâmetro
vegetativo avaliado que foi a altura. No
primeiro ciclo do ensaio a altura variou de 12 a 30 cm, mas as plantas
morreram. Já no segundo ciclo a variável altura teve uma variação de 40 a 50
cm, mas as plantas chegaram até a fase produtiva.
Tabela 4. Resumo das médias do parâmetro
vegetativo avaliado no primeiro e segundo ciclo do ensaio
Variáveis** |
Tratamentos* |
|||||
T1 |
T2 |
T3 |
T4 |
T5 |
T6 |
|
1º Ciclo altura (cm) |
15 |
12 |
22 |
14 |
30 |
20 |
2º Ciclo altura (cm) |
40 |
50 |
40 |
45 |
40 |
40 |
Fonte: elaboração dos autores.
A tabela 5 observa-se o resumo dos valores médios dos
parâmetros produtivos avaliados. Como verificado após a análise
da ANOVA, estatisticamente há diferença significativa em todos parâmetros
produtivos avaliados, número de cacho por planta (CAP), número de frutos por
planta (FP), peso de fruto (PF), diâmetro de frutos (DF), rendimento (R). Para
entendermos melhor qual foi o tratamento que apresentou resultados mais
satisfatório em cada um dos parâmetros, foi feito um teste de Post hoc de Tukey.
Tabela 5. Resumo dos valores
médios
Variáveis |
Tratamentos |
|||||
T1 |
T2 |
T3 |
T4 |
T5 |
T6 |
|
CAP |
36,5ab |
37,3ab |
40,2a |
38,8ab |
34,0b |
35,2ab |
FP |
6,0c |
11,1b |
16,0a |
10,2b |
12,7ab |
10,8b |
DF |
5,1a |
4,1b |
3,8b |
3,7b |
3,9b |
4,2b |
PF |
344,1c |
474,7ab |
548,0 a |
310,6c |
395,8bc |
362,3c |
R |
13,7c |
18,9ab |
21,9a |
12,4c |
15,8bc |
14,4c |
Legenda: número de cacho por planta (CAP), número
de frutos por planta (FP), diâmetro de frutos (DF) em centímetro e peso de
fruto (PF) em grama, rendimento (R) em função dos tratamentos T1, T2, T3, T4,
T5 e T6 em três.
Médias seguidas da mesma letra na coluna não são
significativamente diferentes pelo teste Tukey HSD (α=0,05).
Fonte: elaboração dos autores.
Para a
variável produtiva número de cacho por planta o tratamento 3 (T3) apresentou-se
com maior valor e o T5 menor resultado, apresentando diferenças significativas
entre os dois. Para a variável número de fruto por planta o tratamento 3 (T3)
teve o maior valor tendo diferenças significativas em relação ao tratamento T1
que apresentou o menor valor. Para a variável diâmetro do fruto o maior valor
foi o tratamento 1 (T1) apresentando diferenças para todos tratamentos. Para
variável peso do fruto tratamento 3 (T3) apresentou o maior resultado, sem
diferença significativa para T2, o tratamento (T4) apresentou o menor resultado com diferenças significativas para T3.
Para variável produtividade o tratamento 3 (T3)
apresentou o maior valor sem diferenças significativas para o tratamento 2
(T2), (T5) e (T6), apresentou o menor valor tratamento 4 (T4) apresentando diferenças
significativas para T3.
Para variável produtividade o tratamento 3 (T3)
apresentou o maior valor sem diferenças significativas para o tratamento 2
(T2), (T5) e (T6), apresentou o menor valor Tratamento 4 (T4) apresentando
diferenças significativas para T3.
Os
resultados obtidos apresentam que o tratamento 3 (T3) teve o maior valor, não
apresentando diferenças significativas para T2. Com menor valor o tratamento 5
(T5). Tal resultado pode ter sido motivado por se ter feito o experimento em
condições de campo aberto próximo de outras culturas hospedeiras dessa praga,
não deixando de fora a possibilidade de já ter sido cultivado a mesma cultura
no local ou nas proximidades onde se realizou o experimento, pelas condições
edafoclimáticas e mesmo pela época de cultivo. Cintra et al. (2017) de modo
geral obtiveram resultados inferiores aos valores que constam neste trabalho,
no entanto verificou-se semelhanças no que se refere aos indicadores
agronômicos e a incidência de insetos-broqueadores (Helicoverpa spp., Neoleucinodes
elegantalis e Tuta absoluta) de
frutos de tomateiro submetidos a ensacamento com tecido-não-tecido (TNT).
Para a variável número de fruto por planta o tratamento 3
(T3) teve o maior valor tendo diferenças significativas em relação ao
tratamento T1 que apresentou o menor valor. Carrillo e Chávez (2010) em seus
estudos sobre a variação genética e a resistência a pragas e enfermidades o
resultado foi 5,8 frutos por cacho, similar ao que foi encontrado neste
trabalho.
Nessa
variável o tratamento 1 (T1) teve maior valor apresentando diferenças
significativas com todos tratamentos, valor que pode ter sido motivado por ser
o tratamento com menor número de frutos. Resultado este que não difere do que Gomes et al.
(2012) também encontraram quando avaliaram a incidência de pragas nos sistemas de
monocultivo e policultivo, sendo que no monocultivo foi 5,89 cm e no policultivo 5,40 cm, tal resultado dizem que pode ter sido
motivado pelas diferentes pragas e doenças que se hospedaram nas culturas que
foram usadas no sistema de policultivo com a cultura do tomateiro.
Importa referir que Supparo (2022) fez
o estudo experimental do tomateiro ao ataque de fungos foliares e os valores do
diâmetro foram acima de 6 cm, semelhantes ao encontrados neste trabalho, sendo
que ele fez o estudo em dois ciclos, sendo o primeiro na primavera onde os
frutos apresentaram maior diâmetro do que no segundo ciclo, isto é, no outono.
O diâmetro
decresce a medida de acordo a posição do cacho na planta, Bertin (1995 citado pelo Rocha et al., 2010) defendem
que tal facto se deve a localização de maior número de frutos com defeitos nos
cachos que se encontram na parte superior das plantas, originando um
crescimento não uniformizado.
Quanto a variável peso do fruto o tratamento 3 (T3) apresentou
o maior resultado, sem diferença significativa para T2, o tratamento (T4) apresentou o menor
resultado com diferenças significativas para T3. Autores como Gomes et al. (2012) e Cintra et al. (2017) corroboram
com os resultados neste trabalho espelhado. Costa et al. (2011)
estudando linhagens de tomate Cereja obtiveram valores de peso e sendo o maior
20,81g.
Para variável rendimento o tratamento 3 (T3) apresentou o
maior valor, o menor valor foi o ratamento 4 (T4) apresentando
diferenças significativas para T3. Quanto a produtividade, o tratamento 3 (T3)
se obteve este resultado por ser a planta com maior número de cacho por planta,
maior número de fruto por planta, maior número de peso, e possivelmente foi a
variedade cujos frutos foram menos afectados pela praga. Após observados,
concluiu-se que o resultado foi satisfatório e em concordância ao valor da
produtividade que variados autores em seus experimentos encontram em condições
e locais diferentes do presente experimento.
Já Gomes et al. (2012) em Ipeúna, São Paulo, avaliaram a incidência de pragas no tomateiro orgânico em
dois sistemas, no sistema de monocultivo e policultivo obtendo resultados
ligeiramente inferiores ao que constam neste trabalho, no entanto, o facto
interessante é que a maior produtividade foi verificada no sistema de
monocultivo 17,68 t ha-1 ao passo que o tomateiro em policultivo,
respectivamente, foi 13,87 t ha-1.
Importa
referir que Cintra et al. (2017) estudando alguns indicadores agronômicos e a
incidência de insetos-broqueadores (Helicoverpa
spp., Neoleucinodes elegantalis e
Tuta absoluta) de frutos de tomateiro
submetidos a ensacamento com tecido-não-tecido (TNT) obtiveram resultados no
valor de 79,02 t ha-1 superiores aos que espelhados neste trabalho,
este resultado, deve-se possivelmente ao facto de além da técnica de
ensacamento usada muito em fruticultura, o tomateiro foi estaqueado e o sistema
de rega utilizado foi de rega gota-gota.
1.
A incidência do ataque da Tuta absoluta foi muito elevada no
primeiro ciclo do ensaio fazendo com que as plantas não chegassem a fase
produtiva, facto este, que não aconteceu no segundo ciclo, houve incidência,
entretanto, as plantas chegaram a fase produtiva.
2.
Avaliando
os parâmetros produtivos de todas variedades, conclui-se
que, o T3 apresentou melhor comportamento produtivo quanto ao número de cacho por planta, número de frutos por cacho,
peso de fruto, produtividade.
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