Revisão Recibido: 02/05/2023 │
Aceptado: 06/08/2023
Periodização de
microestrutura: o treino cognitivo
Microstructure periodization: the cognitive training
Nelson Kautzner Marques Junior. Mestre
em Ciência da Motricidade Humana pela UCB. RJ. Brasil. [kautzner123456789junior@gmail.com]
Resumo
A
periodização esportiva foi elaborada pelos gregos com o intuito de preparar os
atletas para os Jogos Olímpicos da antiguidade. Mas foi a partir da revolução
russa de 1917 que a periodização começou a ser muito estudada e ela foi
aperfeiçoada principalmente pelos pesquisadores da escola socialista do
treinamento esportivo. O objetivo da revisão foi de explicar a periodização de
microestrutura do espanhol Seirul-lo Vargas. O capítulo 1 apresentou a origem
das concepções de periodização, sendo evidenciado que a maioria das
periodizações é para esportes individuais. O capítulo 2 explicou sobre a
periodização de microestrutura. Em conclusão, a periodização de Seirul-lo
Vargas é uma concepção interessante para ser usado nas equipes dos jogos
esportivos coletivos.
Palavras Chave: periodização;
esporte; treino esportivo; desempenho esportivo.
Abstract
The sports periodization was elaborated by the Greeks with objective of
prepare the athletes for the ancient Olympic Games. But it was from the Russian
Revolution of 1917 that the periodization began to be much studied and it was
perfected mainly by the researchers of the socialist school of the sports training.
The objective of the review was to explain the microstructure periodization of
the Spanish Seirul-lo Vargas. Chapter 1 presented the origin of the
periodization conceptions, evidencing that most periodizations are for
individual sports. Chapter 2 explained about microstructure periodization. In
conclusion, the periodization of Seirul-lo Vargas is an interesting conception
to be used in the team sports teams.
Keywords:
periodization; sport; sports training; sports performance.
Introdução
A
periodização esportiva foi elaborada pelos gregos com o intuito de preparar os
atletas para os Jogos Olímpicos da antiguidade. Mas foi a partir da revolução
russa de 1917 que a periodização começou a ser muito estudada e ela foi
aperfeiçoada principalmente pelos pesquisadores da escola socialista do
treinamento esportivo, a maioria dos estudos foi realizado pelos cientistas
russos da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) (Marques
Junior, 2020). Entretanto, a maioria dos tipos de periodização do período
empírico (vai dos Jogos Olímpicos da antiguidade até 1950), do período
científico (1950 a 1977) e do período contemporâneo (1978 até os nossos dias)
foram criados para os esportes individuais (Padilla, 2017). Logo, isso
compromete o treinador de estruturar o treinamento para os jogos esportivos
coletivos porque as características das modalidades individuais difere dos
esportes coletivos. Então, a maioria das concepções de periodização parece que
não são tão adequados para os jogos esportivos coletivos.
Portanto,
sabendo dessas limitações dos tipos de periodização, em 1987 o espanhol
Seirul-lo Vargas elaborou a periodização de microestrutura para o futebol, mas
essa concepção pode ser aplicado em outros esportes coletivos (Masià et al.,
2014; Seirul-lo Vargas, 1987; Serrano, 2012). Essa periodização é totalmente
diferente das demais existentes porque ocorre um enfoque no aspecto cognitivo
durante as sessões (Costa, 2013). Porém, a periodização de microestrutura é
pouco conhecida na América Latina, não sendo encontrado publicações sobre esse
tema.
Como é
esse treino cognitivo? Quais meios e métodos são utilizados nessa concepção?
Quais e como são estruturados e prescritos os microciclos e os outros ciclos de
treino?
Portanto,
são muitas questões para serem respondidas. O objetivo da revisão foi de
explicar a periodização de microestrutura do espanhol Seirul-lo Vargas.
Desarrolho
Origem das concepções de periodização
As
concepções de periodização são divididos por períodos históricos porque
conforme a época que foi elaborada e de acordo com as suas características fica
mais fácil estudar esse conteúdo do treinamento esportivo. É muito importante o
treinador estudar a história de cada concepção de periodização para ele
escolher a mais adequada para o seu atleta ou para a equipe que dirige.
O período
empírico da história da periodização esportiva (vai dos Jogos Olímpicos da
antiguidade até 1950) os mais destacados pesquisadores da periodização pioneira
foram Kotov, Gorinevski, Birsin, Pihkala, Grantyn, Dyson, Ozolin e Letunov
(Marques Junior, 2020; Padilla, 2017). A maioria desses pesquisadores eram
russos (total de cinco pesquisadores) e muitos da época da antiga URSS. Letunov
era soviético, mas seu país de origem não foi achado na literatura de
periodização. Nos anos 30, o finlandês Pihkala elaborou uma periodização com
períodos conforme as estações do ano para corredores de fundo e meio fundo do
atletismo (Costa, 2013). Um dos primeiros ocidentais a criar uma periodização
foi o inglês Dyson em 1946, para provas de corrida do atletismo.
O período
científico da história da periodização esportiva foi de 1950 a 1977, sendo
constituído por quatro concepções de periodização tradicional. A periodização
tradicional do russo Matveev foi criada principalmente nos anos 40 e 50. Essa
periodização foi elaborado em três esportes individuais (atletismo, natação e
halterofilismo) e foi usado pela equipe olímpica soviética como preparação para
a Olimpíada de 1952. Em 1971 os russos Arosiev e Kalinin escreveram um artigo
apresentando a periodização pendular para os esportes de combate e para as
modalidades com alta exigência técnica e tática, como os jogos esportivos
coletivos (Marques Junior, 2020). Enquanto que o russo Vorobiev formulou em
1974 para o halterofilismo a periodização do sistema de altas cargas. O alemão
oriental Peter Tschiene idealizou em 1977 a periodização do esquema estrutural
de cargas de alta intensidade para esportes de força rápida e/ou de força
rápida de resistência, ou seja, para modalidades individuais. Portanto, nesse
período os pesquisadores definiram os esportes que eles elaboraram cada
periodização.
O período
contemporâneo da história da periodização vai de 1978 até os dias atuais, sendo
constituído por 14 concepções de periodização (Costa, 2013; Padilla, 2017). Em
1979 o russo Verkhoshanski elaborou a periodização em bloco para as provas de
força rápida do atletismo (salto em distância, salto triplo e salto em altura),
nos anos 70 os ucranianos Platonov e Fesenko criaram a periodização do sistema
tetracíclico para nadadores, nos anos 90 o espanhol Navarro elaborou a
periodização do macrociclo integrado para nadadores, em 1984 o ucraniano
Bondarchuk idealizou a periodização individualizada para lançadores do martelo,
em 1984 o romeno Bompa propôs a periodização de longo estado de forma para
esportes com campeonato duradouro como os jogos esportivos coletivos e em 1985
os russos Issurin e Kaverin desenvolveram a periodização em bloco ATR para
esportistas de canoa e caiaque.
A criação
de outros tipos de periodização contemporâneos continuou, em 1987 o espanhol
Francisco Seirul-lo Vargas criou a periodização de microestrutura para o
futebol embora essa concepção pode ser aplicada em outros jogos esportivos
(Seirul-lo Vargas, 1987), no fim dos anos 80 foi elaborada a periodização não
linear pelos estadunidenses e pelo canadense Poliquin para esportes com
campeonato longo como os jogos esportivos coletivos, em 1989 o português Vítor
Frade estruturou a periodização tática para o futebol mas essa concepção pode
ser prescrita para vários jogos esportivos, em 1998 o cubano Forteza divulgou a
periodização dos sinos estruturais para esportes individuais e coletivos, em
2001 o brasileiro Gomes apresentou a periodização de cargas seletivas em uma
equipe de futebol que foi campeã brasileira mas essa periodização pode ser
usada em outros jogos esportivos e por último, em 2011 o brasileiro Marques
Junior escreveu em um artigo as primeiras ideias sobre a periodização
específica para o voleibol. A concepção proposta por Sidorenko foi elaborado
para saltadores do atletismo e é uma variação da periodização em bloco, sendo
um bloco de progressão. Outro bloco de progressão idealizado para os esportes
individuais, mas para os de resistência, foi criado por Reiss e Scheumann.
Portanto, existem diversos tipos de periodização contemporânea. A tabela 1
apresenta um resumo de cada periodização.
Pesquisador |
Ano que Elaborou a Concepção |
País do Pesquisador |
Esporte que Elaborou a Periodização |
Periodização (nome) |
Período |
1) Kotov |
1917 |
Rússia |
não
mencionou |
não
mencionou |
empírico |
2) Gorinevski |
1922 |
Rússia |
não
mencionou |
não
mencionou |
empírico |
3) Birsin |
anos
20 e 30 |
Rússia |
não
mencionou |
não
mencionou |
empírico |
4) Pihkala |
anos
30 |
Finlândia |
Atletismo
(corrida de fundo e meio fundo) |
não
mencionou |
empírico |
5) Grantyn |
1939 |
Rússia |
não
mencionou |
não
mencionou |
empírico |
6) Dyson |
1946 |
Inglaterra |
Atletismo
(provas de corrida) |
não
mencionou |
empírico |
7) Ozolin |
1949 |
Rússia |
Atletismo |
não
mencionou |
empírico |
8) Letunov |
1950 |
URSS |
não
mencionou |
não
mencionou |
empírico |
1) Matveev |
Anos
40 e 50 |
Rússia |
Atletismo,
natação e halterofilismo |
tradicional |
científico |
2) Arosiev e Kalinin |
1971 |
Rússia |
Lutas
e esportes com alta exigência técnica e tática (jogos esportivos coletivos) |
pendular |
científico |
3) Vorobiev |
1974 |
Rússia |
Halterofilismo |
do
sistema de altas cargas |
científico |
4) Tschiene |
1977 |
Alemanha
Oriental |
Esportes
individuais de força rápida e/ou de força rápida de resistência |
do
esquema estrutural de cargas de alta intensidade |
científico |
1) Verkhoshanski |
1979 |
Rússia |
Atletismo
(provas de força rápida, os saltos) |
em
bloco |
contemporâneo |
2) Platonov e Fesenko |
Anos
70 |
Ucrânia |
Natação |
do
sistema tetracíclico |
contemporâneo |
3) Navarro |
Anos
90 |
Espanha |
Natação |
do
macrociclo integrado |
contemporâneo |
4) Bondarchuk |
1984 |
Ucrânia |
Atletismo
(lançamento do martelo) |
individualizada |
contemporâneo |
5) Bompa |
1984 |
Romênia |
Jogos
esportivos coletivos |
de
longo estado de forma |
contemporâneo |
6) Issurin e Kaverin |
1985 |
Rússia |
Canoa
e caiaque |
em
bloco ATR |
contemporâneo |
7) Seirul-lo Vargas |
1987 |
Espanha |
Jogos
esportivos coletivos |
de
microestrutura |
contemporâneo |
8) Poliquin do Canadá e
EUA |
Fim
dos anos 80 |
Canadá
e EUA |
Jogos
esportivos coletivos |
não
linear |
contemporâneo |
9) Frade |
1989 |
Portugal |
Jogos
esportivos coletivos |
tática |
contemporâneo |
10) Forteza |
1998 |
Cuba |
Esportes
individuais e coletivos |
dos
sinos estruturais |
contemporâneo |
11) Gomes |
2001 |
Brasil |
Jogos
esportivos coletivos |
de
cargas seletivas |
contemporâneo |
12) Marques Junior |
2011 |
Brasil |
Voleibol |
específica
para o voleibol |
contemporâneo |
13) Sidorenko |
não
informou |
não
informou |
Atletismo
(saltadores) |
de
bloco de progressão |
contemporâneo |
14) Reis e Scheuman |
não
informou |
não
informou |
Esportes
individuais de resistência |
de
bloco de progressão |
contemporâneo |
Total de pesquisadores
= 26 |
|
|
|
|
|
Tabela 1. Resumo dos
principais pesquisadores da periodização.
Extraído da tabela 1 a figura 1 apresenta os países
e as escolas do treinamento esportivo que elaboraram periodização. Lembrando
que 6 países da escola socialista do treinamento esportivo elaboraram uma
periodização (URSS é composta pela Rússia e Ucrânia, Alemanha Oriental, Romênia
e Cuba), 3 países da escola europeia ocidental do treinamento esportivo
elaboraram uma periodização (Espanha, Finlândia e Portugal), 3 países da escola
saxônica do treinamento esportivo elaboraram uma periodização (Inglaterra, Canadá e Estados Unidos da
América) e 1 país da escola latino americana do treinamento esportivo elaborou
uma periodização (Brasil).
Figura
1. Países e escolas do treinamento esportivo que criaram periodizações (total e
percentual, Elaborado pelo autor).
Extraído
da tabela 1 a figura 2 mostra para quais esportes essas concepções de
periodização foram criados.
Figura
2. Esportes que foram elaborados as periodizações (total e percentual,
Elaborado pelo autor).
O leitor
observou na figura 2 que existem poucas periodizações para os jogos esportivos
coletivos (total de 8), os seus pesquisadores são Arosiev e Kalinin, Bompa,
Seirul-lo Vargas, a periodização não linear, Vítor Frade, Forteza, Gomes e
Marques Junior - ver na tabela 1. Porém, as concepções que se preocupam como
principal sessão o treinamento técnico e tático são a periodização de Seirul-lo
Vargas, a periodização tática de Vítor Frade, a periodização de Gomes e a
periodização específica para o voleibol de Marques Junior. As demais concepções
(Arosiev e Kalinin, Bompa, não linear e Forteza) existe uma grande preocupação
com a preparação física, mas nos jogos esportivos coletivos o treino técnico e
tático é o determinante no desempenho competitivo. Portanto, somente 4 tipos de
periodização atendem as reais necessidades dessas modalidades.
Conteúdos da periodização de mircroestrutura
Em 1987 o
espanhol Francisco Seirul-lo Vargas apresentou a periodização de microestrutura
para o futebol, mas essa concepção pode ser utilizada em outros jogos
esportivos coletivos (Seirul-lo Vargas, 1987). Atualmente a periodização de
microestrutura vem sendo usada pela equipe de futebol do Barcelona e pelo
handebol do mesmo clube porque o idealizador dessa concepção é treinador a
muitos anos desse clube (Serrano, 2012; Peñas et al., 2013). A figura 3 mostra
o criador dessa periodização.
Figura
3. Francisco Seirul-lo Vargas criador da periodização de microestrutura
(Extraído de https://www.martiperarnau.com/el-futbol-metodologia-del-siglo-xxi/).
O ser
humano é uma estrutura muito complexa que se articula através da interação dos
sistemas que constituem a estrutura humana para realizar uma ação durante a
partida dos jogos esportivos coletivos (Gonzalez, 2014). As estruturas são
constituídas por seis capacidades dos sistemas do indivíduo que atuam durante a
performance esportiva, elas são as seguintes (Tamayo, 2016; Tarragó et al.,
2019; Tassi, 2017):
1) Estrutura do sistema condicional:
relacionada com as capacidades motrizes que o nervo motor inerva um músculo
(é a unidade motora) e através de um impulso nervoso ocorre o movimento que se
manifesta no espaço e tempo pela velocidade, resistência, agilidade, força e
outros,
2) Estrutura do sistema
coordenativo: relacionada com a execução adequada da técnica esportiva,
3) Estrutura do sistema cognitivo:
relacionada com o acontecimento do jogo onde através da percepção, da tomada de
decisão e de outras ocasiona a ação mais adequada durante a situação problema
da partida,
4) Estrutura do sistema
criativo expressivo: o atleta cria espaços de atuação individual e coletivo
durante a partida que são expressos através da maneira de jogar,
5) Estrutura do sistema sócioafetivo:
as interações dos momentos do jogo com o oponente e com o os companheiros de
equipe, a oposição e a cooperação e
6) Estrutura do sistema emotivo e
volitivo: relacionada com as diferentes emoções sentidas durante a
partida e o estado de ânimo para desempenhar as ações durante o jogo. Para
essas estruturas dos sistemas do ser humano estarem integradas durante uma
sessão é necessário que o trabalho seja durante o jogo com o treino em situação
de jogo e/ou com o treino de jogo e que o treino físico também ocorra durante a
partida (Serre et al., 2014; Tassi et al., 2018).
A
periodização de microestrutura é constituída por 3 períodos na temporada e cada
um desses períodos atua de maneira diferente ao longo do ano competitivo, mas
priorizando o trabalho do jogo que desenvolve o aspecto cognitivo da equipe
(Serrano, 2012). Geralmente nessa concepção os atletas iniciam no período de
pré-temporada para criar uma base ao time durante a disputa, em seguida ocorre
um longo período competitivo onde é realizado o treino semanal e os jogos da
disputa e por último acontece o período de transição através de um descanso
ativo e/ou passivo quando termina o duradouro campeonato.
Para o
treinador elaborar os exercícios para a equipe conforme o jogo esportivo
treinado, precisa prescrever o trabalho conforme a classificação da tarefa,
podendo ser geral, dirigida, especial e competitiva (Tamayo, 2016). Durante
essas tarefas sempre o exercício realizado é específico para a modalidade. Uma
tarefa geral exercita as capacidades motoras do esporte treinado (força,
velocidade, resistência etc), mas não possui nenhum trabalho de tomada de
decisão, por exemplo, realizar o treino intervalado de velocidade de
resistência no campo de jogo e com bola, tendo distância, ações com bola, tempo
de estímulo e de pausa iguais ao da disputa (Tassi, 2017). Geralmente os
exercícios da tarefa geral acontecem no início do período de pré-temporada e no
período de transição (Masià et al., 2012).
A tarefa
dirigida a carga de treino é um pouco parecida com a disputa porque o atleta
realiza as técnicas esportivas da modalidade para efetuar a sessão, ocorrendo
um trabalho de coordenação específica e de tomada de decisão não específica
(González, 2014). Por exemplo, a tarefa dirigida pode ser prescrita através de
um circuito técnico e físico onde ocorre saltos, corrida de curta velocidade,
execução das técnicas esportivas (passe, chute, cabeceio etc) e outros. Os
exercícios da tarefa dirigida podem ser realizados nos três períodos do
macrociclo, mas o seu maior volume é no período de pré-temporada e no período
de transição (Masià et al., 2012).
Os
exercícios da tarefa especial possuem uma carga de treino similar ao da disputa
porque as sessões são compostas pelo treino em situação de jogo que requer uma
tomada de decisão específica (Tassi, 2017). Portanto, o trabalho técnico e
tático do jogador é otimizado conforme a maneira de jogar da equipe. A tarefa
especial é mais prescrita no período competitivo, mas também pode ser elaborada
nos outros períodos dessa concepção. A tarefa competitiva ocorre igual a
disputa e é prescrita através do jogo com as mesmas ações técnica e táticas da
maneira de jogar da equipe e requer uma tomada decisão específica, exigindo uma
alta exigência cognitiva (Tamayo, 2016). Essa tarefa ocorre em maior volume no
período competitivo, mas nos outros períodos ela é realizada. A tabela 1 resume
as tarefas da periodização de microestrutura.
Tarefa |
Atividades |
Exemplo |
Geral |
Exercitar
as capacidades motoras do esporte (força, velocidade, resistência etc) e com
nenhuma tomada de decisão. |
Treino
intervalado conduzindo a bola. |
Dirigida |
Exercitar
a técnica e a tomada de decisão não é específica. |
Circuito
técnico e físico. |
Especial |
Treino
em situação de jogo e a tomada de decisão é específica. |
Treino
situacional conforme o modelo de jogo. |
Competitiva |
Treino
de jogo e a tomada de decisão é específica. |
Jogo
treino conforme o modelo de jogo. |
Tabela
1. Tarefas dessa concepção de periodização.
A
periodização de microestrutura objetiva que a equipe dos jogos esportivos
coletivos consigam manter um estado de alta forma esportiva durante o ano
competitivo, mas que o time ou seleção atinja 6 a 8 estados de forma ótima no
momento decisivo da disputa (Segura, 2009). Portanto, esses 6 a 8 estados de
forma ótima de melhor desempenho competitivo da equipe são o pico da forma
esportiva que é manifestado em jogar cada vez melhor. A maneira de atingir essa
forma ótima é elaborar nos períodos (de pré-temporada e competitivo) os
exercícios adequados de cada tarefa (geral, dirigida, especial e competitiva)
com uma carga de treino compatível com a condição atlética de cada jogador.
A carga de
treino da periodização de microestrutura está relacionada com a tarefa que é
prescrita em cada período (de pré-temporada, competitivo e de transição), sendo
constituída por três curvas de volume e por uma de intensidade.
O período de pré-temporada possui o volume
concentrado de carga específica (VCCE) que é adaptado da periodização em bloco
de Verkhoshanski, tem o volume técnico e tático (VTT) e o volume de carga
genérica (VCG) (Serrano, 2012). O volume concentrado de carga específica
corresponde 45 a 50% do tempo total desse período tendo a tarefa geral,
dirigida e especial (González, 2014). O volume técnico e tático é prescrito
pela tarefa competitiva (Tamayo, 2016) e o volume de carga genérica é usado com
a tarefa geral como trabalho recuperativo pela preparação geral, sendo baixo
nesse período de pré-temporada (Seirul-lo Vargas, 1987). A figura 4 mostra o
desenho esquemático do microciclo do período de pré-temporada. O microciclo de
pré-temporada sempre tem a mesma estrutura ao longo do ano, diferindo nos
períodos de pré-temporada de vários anos os tipos de tarefas (geral, dirigida,
especial e competitiva), o tempo dedicado a cada tarefa e na intensidade
praticada em cada tarefa (Serrano, 2012).
Figura 4. Microciclo de pré-temporada do período de
pré-temporada (Adaptado de Seirul-lo Vargas, 1987).
A maneira mais fácil de mensurar esses volumes
é através do tempo destinado a cada um desses volumes. Por exemplo, o volume
concentrado de carga específica possui 50% do tempo total da sessão, o volume
técnico e tático possui 45% do tempo total de treino e por último o volume de
carga genérica tem 5% do tempo total da sessão. Então, sabendo que a sessão
possui 120 minutos de treino, basta fazer uma regra de três para estabelecer o
tempo de cada volume. Logo, temos 120 minutos que é o tempo de treino e 50% é o
tempo de treino do volume concentrado de carga específica, aplicamos esses
valores na regra de três.
O mesmo cálculo
anterior foi realizado para determinar que 54 minutos é o volume técnico e
tático (corresponde a 45%) e 6 minutos é o volume de carga genérica (é 5%). A
curva da intensidade do período de pré-temporada são os esforços durante as
tarefas com bola e do treino físico. Podendo ser mensurado pela frequência
cardíaca (FC), pela escala de percepção subjetiva do esforço (PSE) e outros. O
modo de estabelecer o volume e a intensidade também pode ser efetuada no
período competitivo e no período de transição.
O período competitivo
o volume concentrado de carga específica passa a se chamar de bloco de
temporada (BT), mas quando ocorre jogo as tarefas (dirigida e especial) desse
bloco são substituídas pela própria partida (Serrano, 2012). Nesse período, o
volume técnico e tático (VTT) e o volume de carga genérica (VCG) possuem mesma
função do período de pré-temporada. O volume de carga genérica é baixo no
período competitivo, mas nesse período o volume do bloco de temporada e o
volume técnico e tático possuem maior duração durante as sessões, podendo ser
mensurado igual ao que foi explicado anteriormente, por uma regra de três. A
curva de intensidade é mensurada igual ao período de pré-temporada. A figura 5
mostra o desenho esquemático do microciclo do período competitivo. O microciclo
de temporada sempre tem a mesma estrutura ao longo do ano, diferindo nos
períodos competitivos de vários anos os tipos de tarefas (geral, dirigida,
especial e competitiva), o tempo dedicado a cada tarefa e na intensidade
praticada em cada tarefa (Serrano, 2012).
Figura 5. Microciclo
de temporada do período competitivo (Adaptado de Seirul-lo Vargas, 1987).
No período de
transição o volume concentrado de carga específica, o volume técnico e tático e
o volume de carga genérica são prescritos conforme as necessidades do treinador
e esse volume é calculado igual ao explicado anteriormente. A curva de
intensidade é mensurada igual ao período de pré-temporada, ou seja, foi
explicado anteriormente.
A
elaboração da carga de treino do microciclo nessa concepção de periodização é
conforme o número de jogos na semana (Seirul-lo Vargas, 1987). Quando ocorre um
jogo na semana a carga de treino cresce até o meio da semana (na 4ª feira) e
acontecendo logo depois um trabalho de manutenção na 5ª feira e em seguida de
recuperação na 6ª feira e no sábado (sem treino) para a equipe ter uma adequada
resposta biológica no dia da partida (no domingo) através da alta forma esportiva
ou até propiciar o estado de forma ótima (é o pico) (Masià et al., 2012). Essa
maneira de elaborar a carga de treino do microciclo visa que a equipe dos jogos
esportivos coletivos atinjam a supercompensação. A figura 6 ilustra essas
explicações.
Figura 6. Carga de treino do microciclo com um jogo
na semana (Adaptado de Seirul-lo Vargas, 1987).
Quando
ocorrem três jogos na semana o microciclo estruturado ou microestrutura é
efetuado com carga de treino recuperativa para a equipe ter uma adequada resposta
biológica nas partidas (Seirul-lo Vargas, 1987). A figura 7 apresenta essa
microestrutura.
Figura 7. Carga de treino do microciclo com três
jogos na semana (Adaptado de Seirul-lo Vargas, 1987).
Os
microciclos da periodização de Seirul-lo Vargas costumam ter duração de 7 dias,
correspondendo a quantidade de dias da semana, mas um microciclo dessa
concepção pode ter no máximo de 14 a 21 dias (Peñas et al., 2013). Os
microciclos dessa periodização indicados para o período de pré-temporada são o microciclo
de preparação, o microciclo de transformação dirigida e o microciclo de
transformação especial (Serrano, 2013). Os microciclos do período competitivo
são o microciclo de transformação especial, o microciclo de manutenção e o
microciclo de competição (González, 2014). O período de transição o idealizador
dessa periodização não indicou microciclos, mas é possível sugerir o microciclo
de preparação, o microciclo de transformação dirigida e o microciclo de
manutenção. Os microciclos de cada
período são expostos na tabela 2.
Período |
Microciclo |
de Pré-temporada |
de preparação, de transformação
dirigida e de transformação especial |
Competitivo |
de transformação especial, de
manutenção e de competição |
de Transição |
de preparação, de transformação
dirigida e de manutenção |
Tabela 2. Microciclo de cada período.
O
microciclo de preparação é prescrito para iniciar o período de pré-temporada
com o intuito do atleta se acostumar com os esforços do treino ou através de um
treino recuperativo após o desgaste de um jogo ou depois de um microciclo de
altas cargas (Idoate, 2019). As tarefas do microciclo de preparação costumam
ser geral, dirigida e especial, tendo uma carga baixa. Como a literatura não
informou o valor da carga baixa desse microciclo, é indicado uma carga de 10 a
40%. Os microciclos de transformação a intensidade costuma ser elevada e o
volume é baixo a médio (Tamayo, 2016). Nos microciclos de transformação
dirigida a ênfase é na tarefa dirigida e especial com carga de treino menor do
que o microciclo de transformação especial onde a prioridade nas sessões é
tarefa especial e competitiva (Idoate, 2019). Porém, como não é mencionado o
valor da carga de treino a sugestão para o microciclo de transformação dirigida
é um valor de 60 a 80% e para o microciclo de transformação especial de 80 a
100%.
O
microciclo de manutenção ocorre um equilíbrio nas cargas de treino porque são
realizadas a tarefa dirigida, especial e competitiva (Idoate, 2019), sendo
recomendável uma carga de treino de 40 a 70%. Por último, o microciclo de
competição no momento que ocorrem as disputas, tendo a tarefa especial e
competitiva (Peñas et al., 2013), podendo indicar uma carga de 60 a 100%.
Entretanto, Seirul-lo Vargas (1987) não indicou nenhum microciclo para os
testes de controle. Então, para avaliar as questões técnicas e táticas pela
análise do jogo e o nível de preparação física pela cineantropometria, é
recomendável utilizar nessa concepção o microciclo de teste. A tabela 3 resume
os microciclos dessa periodização.
Microciclo |
Tarefa |
Carga de Treino |
Período |
de
preparação |
geral,
dirigida e especial |
10
a 40% |
de
pré-temporada e de transição |
de
transformação dirigida |
dirigida
e especial |
60
a 80% |
de
pré-temporada e de transição |
de
transformação especial |
especial
e competitiva |
80
a 100% |
de
pré-temporada e competitivo |
de
manutenção |
dirigida,
especial e competitiva |
40
a 70% |
competitivo
e de transição |
de
competição |
especial
e competitiva |
60
a 100% |
competitivo |
de
teste |
análise
do jogo e cineantropometria |
10
a 100% |
de
pré-temporada, competitivo e de transição |
Tabela 3. Conteúdo de
cada microciclo.
A tabela 4 resume como os microciclos são
distribuídos em cada volume dos respectivos períodos.
Período |
Curva
do Volume e da Intensidade |
Tarefa
do Volume e Intensidade |
Microciclo
das Tarefas |
Pré-temporada |
VCCE |
geral, dirigida e especial Corresponde 45 a 50% do
tempo total desse período. |
de preparação (geral,
dirigida e especial), de transformação dirigida (dirigida e especial) e de
transformação especial (especial) |
|
VTT |
competitiva |
de transformação especial |
|
VCG |
geral Trabalho recuperativo de
preparação geral. |
de preparação |
|
Intensidade |
Mensurada pela FC, PSE
etc. |
- |
Competitivo |
BT |
dirigida e especial e/ou jogo da disputa Maior tempo dedicado ao
BT. |
de transformação especial
(especial), de manutenção (dirigida e especial) e de competição (especial) |
|
VTT |
competitiva Maior tempo dedicado ao
VTT. |
de transformação especial,
de manutenção e de competição |
|
VCG |
geral Trabalho recuperativo de
preparação geral. Esse volume costuma ser baixo. |
de preparação É pouco prescrito, esse
microciclo é do período de pré-temporada. |
|
Intensidade |
Mensurada pela FC, PSE
etc. |
- |
Legenda:
VCCE - volume concentrado de
carga específica, VTT - volume técnico e tático, VCG - volume de carga genérica
e BT - bloco de temporada.
Tabela 4. Conteúdos para estruturar a
periodização de microestrutura.
Conclusões
A
periodização de microestrutura é uma concepção destinada para os jogos
esportivos coletivos que se preocupa como prioridade o aspecto cognitivo do
atleta onde merece ser desenvolvido no treino em situação de jogo e no treino
de jogo. Porém, nessa periodização o treino físico não é esquecido, merecendo
que ocorra durante o jogo e/ou através do treino integrado onde acontece o
trabalho com bola e sessão de preparação física. Entretanto, essa concepção de
periodização possui uma limitação, não foi encontrado nenhum estudo de campo
sobre a periodização de microestrutura. Em conclusão, a periodização de
Seirul-lo Vargas é uma concepção interessante para ser usado nas equipes dos
jogos esportivos coletivos.
Esse
artigo é dedicado a cachorra Juju (*07/2004 a †04/08/2019) e Frida (*12/2012 a †15/10/2019), ao cão
Dálmata Sultão (*15/05/2008
a †22/07/2020)
e ao cão Fophy (*janeiro de 2010 a †18/08/2020).
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